“Tá com mau hálito... mostre a língua, vamos, mostre a
língua!” Era a voz imperiosa de mamãe para que lhe fizéssemos algo que em
qualquer outra situação seria inadmissível. “ Língua branca, língua suja...”.
Poderíamos esperar que naquele próximo final de semana o sal
amargo iria rolar. Mamãe nos preparava
essa “ maravilha “ bem da manhãzinha de algum domingo, quando ela não saía para
o trabalho na roça. Essa “ toadinha” que acontecia mais ou menos de quatro em
quatro meses era bem assim mesmo como passo a descrever agora: Ela se levantava
bem cedinho ( a gente ouvia ) e ia até a cozinha, voltando após alguns
minutinhos com três canequinhas cheias de
uma “ poção “. Fingíamos dormir. “
Meninas, acordem! Vamos cuidar da saúde desses estômagos.” “ É salamargo, mãe ?
“ alguma de nós lhe perguntava chorosa, embora já o soubéssemos. “ Mais ou menos, só
um pouquinho... mas é pro bem de vocês.”
Desde então, começava nosso calvário. Minha irmã mais velha
recusava beber, e aos gritos dizia: “ Não agüento! Vou vomitar! Não consigo!!!”
E mamãe de maneira firme sustentava: “
Consegue sim! Vamos, dê bom exemplo às suas irmãs!” Nesse momento, eu,
sem qualquer palavra, tomava coragem. Crescia tanto, que ao me sentar na cama,
parecia que minha cabeça iria tocar o telhado. “ Dá aqui o meu, mãe, que eu
bebo!” E enchendo o peito de ar para prender a respiração, concentrando todas
as minhas forças, eu ingeria de uma só vez aquele remédio salobre . “ Pronto,
mãe, bebi tudinho. Toma a caneca. “
“Tá vendo, Cléo ? Sua irmã caçula lhe dando lição... Não
fica com vergonha não ???”
Com isso, a irmã do “ meio “ ( entre a mais velha e a caçula
) tomava atitude, e mesmo em caretas,
tomava aquela coisa tão ruim... Tá vendo, Cléo ? A Raquel também já bebeu!“
Vamos, de uma vez! Cria coragem, filha! Não pense que vai escapar! Tem que
tomar! Tem que tomar!” Mamãe nesse momento, já falava quase que em gritos.
“ Preciso da chave, vou buscar a chave – falava minha irmã.”
“Nãnãnãnão! Deixe que eu vou.” , dizia mamãe, ainda com o
remédio da Cléo nas mãos. Ela bem sabia que se minha irmã chegasse até aquela
porta, ganharia o quintal, e daí seria quase impossível conseguir o que já era
tão difícil, tão complicado. Assim voltava com remédio numa mão, e a chave na
outra, e com olhos impacientes lhe dizia: “ Toma aqui a chave! Aperte-a bem
forte, e beba esse “ negócio “ Naquele momento, Cléo apertava a chave com força
nas mãos, mas, o remédio... que nada! E mamãe
espera que espera... E então surta. Nessa altura do campeonato, mamãe sabia que sem a cooperação de um grande aliado
seu, jamais faria com que minha irmã tomasse aquele remédio. Buscou o “ reio “.
Era um relho, trazido de algum lugar pelo Rex, um cachorrinho vira lata para
quem tínhamos dado acolhida há algum tempo. Aí então, a “ coisa engrossava”, e
de medo de apanhar, minha irmã ia sorvendo aquele sal amargo em goles
pequeninos, entre choros e murmurações . Era como se a gente sentisse aquilo
escorrendo devagar pelo seu esôfago. Não poderia vomitar.
Devolvia a caneca pra mamãe, com a metade do líquido ainda
sem beber. Uma negociaçãozinha aqui, outra ali, e mamãe pegava finalmente a vasilha,
dando-se por razoavelmente satisfeita. Agora, era só esperar o resultado do
purgante, sem o qual não poderíamos tomar nosso desjejum.
Por que estou escrevendo isso, nessas alturas da vida ( 65
primaveras minhas ) e da madrugada desta terça-feira, 17 de Abril, já de 2.018
? Explico: Estou de castigo e de prontidão, para a qualquer momento correr para
o “ trono” por conta de um preparo já em pleno andamento, para mais à tarde me
submeter a uma colonoscopia. O resultado vai dar para “ ótimo!”, pois eu tenho
Fé em Deus!” ( mesmo se fosse o contrário, eu não me apavoraria. ) Por ora fico
aqui. Bom sono, e boa madrugada para quem não precisa tomar purgante.
NB:
Antes de deixar caneta e papel de lado, tenho algo diferente dessa história toda acima.Algo muito
importante e digno de nota. Mesmo porque a vida não é feita só de purgantes.(
risos ) E graças a Deus por isso!
Quero registrar algo bom e doce, para fechar muito bem esta
página: Hoje, 17 de Abril de 2.018, é dia de aniversário de minha filha Amanda,
a caçula. Parabéns, filha, ( que nasceu em plena sexta-feira santa). Deus a
abençoe sempre, com tudo que de fato valha a pena: Paz, saúde, Alegria,
Esperança. E o mais importante de tudo: Salvação para toda sua casa! E muita
Sabedoria, e risos, e boas, belas histórias !!. Este é meu pedido a Deus, em
Nome de Jesus, para você, Amanda, bem como a você, Patrícia, que é a mais
velha. ( pena não ter a do meio... Não veio... )
No caso de minhas irmãs, a do meio é Raquel, que sempre foi,
é e será muito importante e querida. Minha irmã mais velha queridíssima também:
Cleópatra, que já está há muito tempo com Deus, e certamente já tem garantida a
companhia de nossa mãe Zuleika, e agora
felizes, sem o raio do purgante... ( risos novamente ).
Por parte de minhas filhas, fui presenteada com três netas:
a mais velha ( Laura ), a do meio ( Elisa ) e a caçula ( Marina ).
Que nossas histórias continuem a ser contadas, e, por favor,
queridas, contem só as bonitas ou engraçadas,
como a do “ Óleo de Fígado de Bacalhau, remédio só da mamãe” . Êta,
coisa boa! ( risos )Deus abençoe a todos!
“Histórias valem para ser vividas, absorvidas, declaradas. Isso
é parte do sentido de nossa existência por aqui. Felizes as pessoas que as têm
como tesouro de valor. Graças a Deus por cada uma delas! “
“Em tudo daí graças, porque esta é a Vontade de Deus em
Cristo Jesus para convosco. ......Examinai
tudo, e retende o que é Bom. A Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja
convosco.” 1ª Tessalonicenses, cap. 5: versículos: 18, 21 e 28. ( agora, já
12:56 horas de 17.04.2.018 )
Heloísa Helena Zachello.